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FOTO.     Magali curtindo o dia ensolarado deitada na grama com carinho do tutor Rafael, e ao lado de um de seus 4 irmãos
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A gata de rodas

Destino. Esta é a palavra que define a história de Magali, uma gatinha paraplégica de 2 anos e Rafael Machado, que tem 28 anos e é projetista elétrico.

Tudo começou com o Maguila, primeiro gato paraplégico adotado por Rafael.

Sobrevivente de um acidente e resgatado da rua, após 2 anos e meio sob os cuidados de Rafael, Maguila, diagnosticado com câncer, precisou ficar internado e não resistiu.

Desde então, os caminhos foram cruzados. E na mesma clínica veterinária em que o gato estava, ficava Magali. Ela fora resgatada pelo Projeto Abrigo Escola, liderado por Esdras Andrade, e como precisava de alguns cuidados diários específicos, estava abrigada na clínica até encontrar um lar.

São José dos Campos, 17 de julho de 2019 – Após 29 dias do falecimento de Maguila, Rafael adotou a Magali. “Eu lembro que na última noite que fiquei com ele, observava ele olhando muito para ela, até pensei ‘será que ele quer dizer alguma coisa?’, fiquei com aquilo na cabeça, e quando o pessoal da clínica me contou que ela era vizinha dele no gatil, liguei os pontos e falei ‘é ela’.”

Segundo pesquisas feitas pelo Instituto Pet Brasil, mais de 170 mil animais abandonados estão sob tutela de ONGs e grupos que atuam na proteção animal em todo o Brasil, cerca de 165 mil (96%) são cães e 6 mil (4%) são gatos.

“A grandeza de uma nação e seu progresso moral podem ser julgados pela forma como seus animais são tratados.”

- Mahatma Gandhi

(1869-1948)

A população animal do Brasil é a terceira maior do mundo.

Há pets que ficam nos abrigos por anos e conforme vão envelhecendo, as chances de uma adoção diminuem e esses locais acabam sendo o seu primeiro e único lar.

Magali esperou 3 meses para ser adotada. Rafael conta que apoia a causa dos animais com deficiência e não pensou duas vezes em adota-la, até mesmo para honrar a memória de seu gatinho anterior. “Eu já tinha em mente que teria outro animal especial, porque eles são os últimos, vão ficando para trás.” O tutor também relata a sua luta contra a depressão e o amparo que o felino lhe proporcionou.

“A depressão veio antes do Maguila e ele me ajudou muito a sair dela, porque eu não procurava ajuda, não me tratava, não queria reconhecer e vivia com pensamentos e atitudes de suicídio que já estavam chegando em um limiar muito perigoso, e quando o Maguila veio, a primeira coisa que passou pela minha cabeça foi ‘agora não dá pra vacilar, porque eu tenho alguém que depende de mim’. E logo que ele partiu, pensei que seria até saudável para que eu continuasse, porque me trazia uma coisa boa, me mantinha entusiasmado.”

Adoção responsável

Amor e responsabilidade andam lado a lado quando falamos sobre adoção. E este fato não está ligado apenas aos animais com deficiência. Ao proporcionar um lar aos pets, é necessário garantir que haja condições de promover qualidade de vida e bem-estar. O acontecimento mais relatado por protetores que resgatam animais que sofreram algum acidente ou maus-tratos é ter orientações de médicos veterinários para eutanasiar.

“Com o Maguila, fui instruído várias vezes a esse procedimento e sair da clínica com ele vivo foi uma luta. A equipe veterinária queria eutanasia-lo só porque ele não ia andar, e mesmo não tendo o conhecimento de animal com deficiência na época, não me parecia justo, nunca vi eutanasiar um humano porque ele não vai andar”, compartilha Rafael.

Durante a rotina de trabalho, os profissionais da área veterinária se deparam com muitas situações de maus cuidados com animais e para evitar possíveis abandonos futuros, em alguns casos, há a recomendação do procedimento de eutanásia. “Vale reforçar para as pessoas a dedicação que será necessária, mas não falar ‘o animal não anda, então ele não vai ter qualidade de vida’”, complementa o tutor. De fato, exige-se uma conscientização social.

Magali é retratada por seu tutor como um ‘foguetinho’, super ágil, corre pela casa, brinca com os irmãos e escala os móveis como um gato normal, apenas possui uma condição diferente. Esbanja lealdade e companhia.

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Ao traçar todo o percurso da história de vida da gatinha e de Rafael, o tutor, com um sorriso no rosto e os olhos brilhando, descreve:

“Ela é minha filha. Ela representa parte de mim. Eu era atleta, participava de competições de bicicleta antes e quando as pessoas me viam, perguntavam ‘e as corridas?’, hoje eu brinco que as pessoas me veem e falam ‘e os gatos? E a Magali?’. Então, ela meio que se tornou uma extensão de mim.”

Organizações não Governamentais: amparo da população animal

A mobilização de voluntários tem sido resultado significativo para a salvação da vida de animais em condição de vulnerabilidade

No Brasil, existem mais de 370 ONGs que atuam na proteção animal. Conforme levantamento feito pelo Instituto Pet Brasil, dessas, aproximadamente 169, ou seja, 46% estão na região Sudeste, 18% na região Sul, 17% na região Nordeste, 12% na região Norte e 7% na região Centro-Oeste.

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Norte

12%

Nordeste

17%

Centro-Oeste

7%

Sudeste

46%

   Sul

18%

Fonte: Instituto Pet Brasil

Há algumas organizações que colocam foco maior para o resgate de animais com deficiência e realizam campanhas de incentivo específicas para adota-los. A ONG Solidariedade à Vida Animal (Sava) é a pioneira no país a cuidar especialmente de pets idosos e deficientes; o abrigo da Sociedade Protetora dos Animais (SPA) abriga mais de 100 animais e uma parte desse número apresenta alguma deficiência; a Ação pró Vida Animal e Meio Ambiente (AVAMA) em suas feiras estimula a adoção de animais cadeirantes, cegos, com problemas de saúde e que precisam de remédios de uso contínuo.

A porcentagem de animais abandonados no país é progressiva, portanto, a importância de ter locais de acolhimento e tratamento deve ser refletida. Contudo, essas entidades enfrentam alguns obstáculos; a falta de espaço é um deles. “Não temos como receber todos os animais que nos pedem ajuda, são mais de 10 pedidos por dia. Assumimos os casos mais graves e quando temos espaço físico para receber, pois se o sítio está lotado, precisamos esperar doar alguns animais para conseguir resgatar mais”, conta Stéphanie Pacheco, voluntária da ONG Amigos de São Francisco.

Além da superlotação, outra dificuldade enfrentada por essas organizações é a falta de recursos financeiros. A maioria delas dependem a sua fonte de renda somente de doações de pessoas físicas e daqueles simpatizados e apoiadores da causa animal.

A insegurança e a incerteza cercam os responsáveis pelas ONGs. Com a pandemia do covid-19, os doadores se afastaram e a arrecadação está cada vez mais complicada.

“Nos mantemos somente de doações. Quando as contas começam a se acumular, pedimos ajuda aos nossos seguidores nas redes sociais como Facebook e Instagram, que somam cerca de 700 mil pessoas nos acompanhando. Mas as doações caíram muito e não tem sido fácil darmos continuidade ao nosso trabalho”, relata uma das responsáveis pela ONG Clube dos Vira-Latas, Maria Cristina.

Questionando o porquê de as ONGs estarem com falta de espaço para toda a população animal, chegamos à conclusão da preferência dos seres humanos na hora de escolher o pet. Os animais adultos e idosos que passam pelos abrigos costumam fazer daquele, o seu lar até o restante de suas vidas.

O especismo deve ser combatido, independente da espécie ou raça, todos merecem a mesma proteção e o mesmo cuidado.

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Conheça a história de quatro animais que driblam as suas adversidades e mostram a importância de serem reconhecidos e visíveis aos olhos da sociedade:

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© 2020 por Gabrielle Garcia.

São Paulo, SP.

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